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Visitante 🌻

Eu naquela manhã de sábado havia decidido que iria arrumar a bagunça instaurada na minha casa. Havia algum tempo que não me dedicava à função e decididamente tudo estava uma zona. Comecei o dia tomando café da manhã e deliberei que começaria a faxina pela área da frente. Enquanto jogava água no chão empoeirado você bateu palmas.

Seria mentira se eu dissesse que com certeza iria atendê-lo. Apesar de ter acordado com um bom humor tão raro naqueles dias eu ainda tinha o péssimo hábito de ignorar visitantes não anunciados. Mas eu estava na área e você já havia me visto, não vi outra solução se não atende -lo.

Era uma manhã fresca como aquelas que só se tem após uma noite chuvosa. No portão você se apresentou com um sorriso misterioso de quem tinha coisas interessantes à dizer. Bem vestido, bem alinhado e com um perfume gostoso. Inicialmente pensei que você fosse de alguma religião e estivesse ali para me converter. Eu disse:

- Bom dia - o que refletia meu bom humor raro - e em que posso lhe ajudar?

Mesmo depois de todo esse tempo eu ainda não consigo dizer ao certo sobre o que se tratava a sua visita. A medida que seus lábios de movimentavam e seu timbre emitia longas frases com uma dicção impecável eu me perdia em pensamentos. Não consigo me lembrar de nada que você me disse aquele dia, mas sei que a sensação de maravilhada me acompanhou.

Em um determinado ponto me veio uma vontade grande de te convidar para entrar. Não fazia o menor sentido aquele convite e eu mesma cheguei à essa conclusão enquanto pensava. A casa estava uma bagunça, eu acabara de te conhecer e nada daquilo era coerente e desviei o olhar como quem espanta um pensamento. Quando te olhei de volta você estava me encarando e perguntou:

- O que você ia dizer Angélica?

Enquanto reviro essa história na minha cabeça por várias e várias vezes acabo perdendo detalhes, contextos e lugares, mas a sua expressão me olhando naquele exato momento eu consigo ver. Era como se você estivesse ouvido meus pensamentos, era como se eu tivesse pensado tão alto que você havia escutado. Eu acho sinceramente que você havia me escutado. Você continuou:

- Pode falar.

- Melhor não – eu disse isso pois já havia chegado à conclusão de que por mais incrível que aquela visita estivesse sendo eu não podia te chamar para entrar. Tudo estava tão bagunçado, tão sujo, tão desorganizado.

- S̩rio, voc̻ pode falar. Рvoc̻ insistiu.

- Voc̻ quer entrar? Рsua expresṣo mudou nesse momento, eu ṇo consegui decifrar, algo entre reflexivo, surpreso, talvez tentado?

- Entrar? - você perguntou meio que refletindo em voz alta.

- Entrar - confirmei ainda sem entender porque diabos eu estava convidando esse estranho pra entrar se estava tudo uma bagunça.

Você desconversou e disse que tinha que ir, estava tarde e você tinha outras portas para visitar. Eu insisti:

- Tem certeza? Fiz café. - ainda não sei porque insisti aquele dia. Eu realmente gostaria que você entrasse, mas não daquele jeito, não naquele momento, quem sabe mais tarde, depois que a faxina estivesse concluída.

Você por 1 segundo quase que pensou a respeito, eu consegui ver o pensamento sendo formado, o impasse e a decisão.

- Não posso, quem sabe outro dia? - você disse.

Você disse quem sabe outro dia e eu pensei que outro dia poderia ser uma boa, mas outro dia era um abstrato na imensidão das minhas expectativas. Acho que você percebeu esse pensamento na minha cabeça e não dá para saber o que isso te causou.

- Quem sabe outro dia - disse eu.

Daí você se foi.

 

Angélica Justino


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