Não é como se eu tivesse acordado na data de hoje e de repente percebido que as maiores conversas que eu tenho são comigo mesma. É um processo que vem se arrastando há alguns anos, mas hoje foi que percebi as cores desse fato.
Também não é como se não houvesse
assuntou ou como se não houvesse plateia, acho que depois de certo momento a
gente passa a viver mais pra dentro. Perceber que você é a sua melhor companhia
é libertador e solitário. Perceber que eu me basto foi a melhor coisa que eu
fiz por mim nos últimos 10 anos, minha companhia é excelente.
Também não é que eu fuja de
outras pessoas e me tranque em casa com meus 12 gatos, não eu também sinto carência,
eu também me apaixono, eu também tenho libido, mas aos 29 anos eu sei tudo
passa. Tudo passa nada melhor que um papo consigo
mesma.
A gente vai aprendendo a viver
sozinho desde que a gente nasce, cada minuto da nossa vida a gente passa
aprendendo a ser suficiente pra si mesmo. A primeira coisa que a gente faz quando
nasce é aprender a respirar sozinho, depois a cagar na hora certa, se limpar
sozinho, aprende a cozinhar, aprende que tem que beber água (se não a gente
faz pedlinha), aprende a amar, aprende a esquecer, aprende a deixar ir.
Talvez todo mundo tenha o seu
ponto de virada pra entender esse individualismo de existir, o meu foi aprender
a deixar ir. Segurar é tão contra o caminho natural da vida, essa ideia que
todo mundo nasceu em 2 e essa idealização do amor romântico distrai muito do
real sentido: todos os dias a gente ta aprendendo a morrer sozinho.
A vida é uma grande peça de teatro
meus amores e depois dos 29 anos é monólogo. Eu não sei como é depois dos 35,
depois dos 40, não faço ideia de como seja depois dos 54, mas depois dos 29 é
monólogo. Falar consigo mesmo carrega a paz de ter e não ter o julgamento, mas
acima de tudo carrega o carinho de saber que não tem ninguém aqui que te
entenda mais que você mesma.
Viver não vem com manual, a gente
vai aprendendo sozinho ao longo dos tropeços e absolutamente ninguém sabe mais
do que a gente os B.O.s diários. As vezes me pergunto se minha ainda insistente
busca pelo amor romântico não seja apenas uma negação em aceitar que a única pessoa
que eu queira perto seja eu mesma.
Angélica Justino
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