Aleatoriamente um beija flor entrou na minha sacada em uma manhã a
uns meses atrás. Inicialmente ignorei o animalzinho que ingenuamente entrou
naquele apartamento pequeno e meio abafado para um mês qualquer de verão. Como
não encontrou nada, nenhuma flor ou água ele partiu.
No dia seguinte o pequeno iludido entrou pela sacada outra vez,
ainda esperançoso e na ânsia por algo que eu não tinha a oferecer e nem iria.
Ao longo dos dias o beija-flor entrava e saia do meu apartamento, não sei se
por teimosia ou por burrice. Vocês podem se perguntar porque eu não tenho
flores na janela como aquelas lindas sacadas, mas o fato de eu não conseguir
cultivar nada pode ser discutido em outro post.
Ainda seguindo a história, em um sábado qualquer, passando pela
floricultura resolvi comprar um suporte daqueles floridos de plástico, depois
de tanta insistência do animalzinho ele merecia minha atenção.
Cheguei em casa, preparei a solução aquosa de glicose em uma
concentração quase analítica, coloquei no suporte e pendurei na sacada. Na
manhã seguinte ele apareceu e meio que sentindo o cheiro ou vendo a cor
chamativa daquele negócio se deleitou no doce. Ele me pareceu feliz e de
repente eu me senti feliz por ele estar ali me fazendo companhia todas as
manhãs.
Os meses se passaram e certo dia ele não veio mais. Primeiro
pensei que algo tinha acontecido, um gato poderia tê-lo feito de refeição ou um
gavião, essa ideia me deixou muito triste e chorei. Depois de um tempo me
convenci de que na verdade ele havia encontrado uma casa melhor com um açúcar
mais doce, quem sabe água ou um ninho. Essa segunda ideia também me fez chorar.
Mas qual a mensagem por traz dessa pequena fábula? Não tem
mensagem, é só isso. Aleatoriamente coisas boas acontecem, não tem um “porquê” do beija-flor ter escolhido a
minha sacada e jamais saberei o motivo dele insistir por tantos dias. “Mas porque ele foi embora?” Isso é outra
pergunta sem resposta, pode ser que ele tenha morrido. É muito possível. Ou
pode ser que ele apenas tenha decidido não mais me visitar.
Ao longo da vida isso acontece tantas vezes que a gente perde as
contas, tantas coisas simplesmente vem e vão sem nenhum “porquê”. Coisas que você não sabia que queria ou que um dia fosse
sentir falta, elas vem e vão.
Jamais pensei em ter uma ave silvestre como mascote (já sim, uma
coruja) e quando ele entrou na minha vida eu simplesmente o ignorei, mas depois
de um tempo ele simplesmente se tornou querido, seja pela insistência ou
estupidez.
Fico feliz pelos momentos de felicidade que tive ao receber suas
visitas matutinas, mas meu pragmatismo e negativismo fazem eu me perguntar “Por que esse beija-flor entrou na minha
janela, me fez gostar dele pra nunca mais voltar?”, “Melhor seria se nunca
tivesse acontecido?”, “E se minha janela estivesse fechada aquele dia?”,
“Deveria ter fechado”.
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